Nãoexisteosónuncaexistiununcaexistiráosósóissosóaquilo.Nãominta,
nãodestruaosónãomastiguenãoinventenãodigaqueeleexiste.Nãoexiste
osó,nuncaexistiu,nuncaexistiráosó.

Drama

(Esse conto é muito grande e não promete nada, mas para quem for ler, é muito bom baixar antes a música PAPERCLIPS do TRAVIS. Achei a trilha sonora perfeita para a história. Escute no final ok!)


Tudo se passa em uma pequena vila afastada da cidade, com ruas largas e casas quadradas rodeadas de quintal gramado.
Nunca havia movimentações estranhas demais, a não ser pelo grupo de arruaceiros que caminhavam pelas ruas à noite para fumar e beber.
Naquela vila as pessoas ainda guardavam velhos costumes e vestiam-se como seus avós.
Na casa de número 17 Vivia um casal e seu único filho Téu. Eles eram os Fontes. Eles nunca estavam em casa, porque trabalhavam viajando. Somente nos fins de semana voltavam e aparavam a grama e almoçavam com o filho. Na segunda pegavam as malas e saiam novamente.
O casal nunca achou que Téu fosse normal. Quando criança, Téu desenhava cavalos mortos e sem pernas, e ficava feliz com aquilo.
Quando alguém perguntava por que a felicidade ele sorria e dizia:
- eles perderam as pernas mas ganharam asas! – e sempre lhes respondiam:
-Cavalo não tem asa menino!
E assim era com os macacos, com os lagartos e até com as cobras.
Seus pais enlouqueciam com aquilo. Até que um dia sentaram Téu em uma cadeira na cozinha e disseram que nunca mais queriam ver desenhos de bichos mortos novamente naquela casa. Tiraram todos os velhos desenhos de Téu de dentro da caixa onde os guardava e os queimaram na pia.
Não adiantavam os berros e as lágrimas da criança. Nenhuma folha foi poupada.
...
Agora Davi tinha 19 anos. Idade bastante para ficar sozinho em casa. Ele sempre via TV até tarde. Adora filmes de drama, se vestia sempre com uma roupa velha cheia de buracos, raramente era visto do lado de fora, a não ser quando ia até a casa da frente brincar com sua única amiga, uma garota de 7 anos.
No número 20 moram os Richard. Eles são a família mais popular da vizinhança. Sua grama é sempre verdinha, suas roupas caras e seu modos coloniais.
Os Richard têm dois filhos. Eliza, a menor, meiga e sorridente,sempre muito simpática e acolhedora, adora seu amigo grande e brincar, como todas as crianças de sua idade.
Já Rômulo é totalmente contrário á sua boa criação. Mimado desde criança, ele se tornou um jovem bravo e vândalo. Usa sempre uma jaqueta preta de couro e um cigarro.
Rom nunca viu a cara de Téu, assim como Téu só o conhece de longe, quando ele passa de noite com seus amigos vagabundo que jogam pedras nas portas das casas.
...
Era uma manhã fria de inverno. Todos estavam trancados em suas casas com as lareiras acesas.
Téu precisa de leite. Era segunda e seus pais saião daqui a pouco em viagem.
Ele andava pela rua larga e vazia, dois quarteirões até o mercado.
Apenas um estranho vinha m sua direção, lá longo, já perto do mercado. À medida que andavam se aproximavam até que se encontraram, um de cada lado da rua. Olharam-se e examinaram-se rapidamente.
Téu sabia quem era. O filho malvado dos Richard. Mas Rômulo não conhece aqule imbecil de cachecol. “olha o andar daquele idiota...” ele pensa. E anda para casa, mas não entra. Senta-se no balanço no jardim. Como se esperasse alguma coisa.
Em seu caminho para o mercado Téu olhou três vezes para trás. Nunca o tinha visto tão de perto. Só olhava pela janela, de madrugada quando ele passava com os rockers.
“O carro dos Fontes estão fora essa manhã. Eles vão viaja de novo! Babacas!” Rômulo se balança levemente.
Téu chega não muito depois com a garrafa de leite. Abraça os pais rapidamente e espera eles saírem. Olha mais uma vez para o “gangster”, que olha de volta. Os dois viram de costas e entram em suas casas.
...
Quarta-feira. Aquele dia estava mais quente, embora o inverno mal tivesse começado. Algumas crianças brincavam do lado de fora.
Téu foi até a casa 20 para ver Eliza. Atravessou a rua, passou pelo balanço e pela grama verdinha. Subiu os degraus e tocou a campainha... tocou a campainha... tocou a campainha. Escuta a voz da Sra. Richard gritando para o filho para abrir a porta.
Téu pensa em voltar para casa, mas fica ali, imóvel à frente da porta.
Logo depois a porta se abre.é Rômulo, mas ele não está usando a jaqueta preta, nem o cigarro e nem a maquiagem preto nos olhos.parece ter acabado de sair do banho. Os cabelos molhados e um pijama listrado.
Eles param por um tempo.romulo pensa “o que esse babaca quer aqui?” e Téu “nunca pensei vê-lo assim...”
- Entra!
- É... eu vim ver Eliza.
- Entra!
Davi entra na casa. O mesmo cenário habitual. Os móveis arrumados sempre no mesmo lugar, a decoração combinando.
- sobe a escada ela ta lá. Ta doente.
‘a voz dele é bonita” pensou Téu.”gostei... dos sapatos” disse Rom para si mesmo.
...
Eliza estava gripada. Não pôde sair para brincar. Téu contou uma história para ela. Rom passava de lápara cá em frente a porta e depois se trancou em seu quarto e ligou o som em volume baixo. Tocava Travis. Téu adorava aquela música e se atrapalhou com a história.
Na hora do almoço a Sra.Richard convidou Téu para comer com eles.ele aceitou.
Naquela família todos comiam juntos. Rom desceu a escada. A mesa era farta, diferente da comida sem sal que ele cozinhava.
Os olhares se cruzavam. O Sr. E a Sra. Richard observavam os modos corretos de Téu e Rômulo achava tudo aquilo uma grande falta do que fazer. Ele usava headphones.
Mais tarde Téu foi para casa, acompanhado pelos olhos de Rom pela janela.
...
Três dias se passaram. Sábado. Nesse fim de semana os pais de Téu não vinham para casa. Ele foi à locadora e trouxe oito filmes e um pote de sorvete. Seria uma noite feliz e melancólica. Téu não era triste, apenas gostava da nostalgia avessa, da saudade do que não tinha feito e provavelmente não iria fazer.
...
Rapidamente a noite chegou. Rômulo saia com sua galera para brincar de vagabundos. Bebia e fumava sem pudor.
Téu começava a ver os filmes em seu quarto. Olhava pela janela os quatro ou cinco amigos vestidos de preto saindo da casa da frente. Rom olhava para ele.
...
No final da noite, mais ou menos 3:30, Rom voltava para casa. Sentou no balanço e viu a luz do quarto da casa 17 ligada.
Decidiu fazer ma visitinha.
Ele subiu pela calha até o telhado e observou pela janela. A TV ligada, o babaca deitado na cama rodeado de biscoitos e o pote de sorvete, quase vazio. Aquele idiota não poderia mesmo passar uma noite acordado.
Ele entrou no quarto. A tela azul do DVD olhava para a cena. Ainda estava meio tonto por causa do álcool. Resolveu deitar do outro lado da cama e ali dormiu, até a manhã.
...
8:00 o despetador chamou. A TV ligada. A tela azul. Téu olhava para o teto com preguiça de levantar. Sente a cama pesada.olha para o lado e subitamente pula dacama.
- O que você ta fazendo aqui?
- Quê? – Rom ainda não tinha acordado.
- Sai daqui agora!
- hey eu sei que você não quer que eu saia... nós somos iguais cara... você ta sozinho aqui... – o garoto provocava, se levantando da cama vagarosamente.
- Quê?! Sai da minha casa!
Rômulo agarrou Téu pelas mãos e o deitou na cama, por cima dos biscoitos. Os DVDs caíram no chão.
Téu tentava escapar. Rom o agarrava o abraçava fortemente. Téu gritava . Rom fechou sua boa com a mão.
Por um momento os dois pararam. Os olhos se encontravam. Téu começava a chorar.
Rom se aproximava vagarosamente, sem tirar os olhos dos olhos do outro. Tirou a mão que o calava e a substituiu pela própria boca.
Téu correspondia o beijo, amargo de whisky. Mas depois de alguns segundos ele mordeu forte a boca do “gangster”. O sangue começava a jorrar, mas Rom não parava. Começa a correr a boca pelo rosto do “babaca”.beija sua face, beija sua testa, beija seus olhos e seu pescoço, deixando um rastro vermelho pelo rosto de Téu.
Depois disso, Rom pegou os cabelos de Téu, virou-o de costas. Cobriu os dois com o lençol sujo de sangue e sorvete. Beija sua nuca. O agarrava pela cintura...

...

Ao meio dia, os dois acordavam depois do ocorrido. Téu levantou e fez um curativo na boca de Rom.
Deitavam e olhavam para o teto.
Rom levantou e foi para casa. Arrancou o curativo e jogou-o na grama quase morta dos Fontes.

...

Mais tarde Téu foi devolver os filmes.
Rom o encontrou na rua e deu um bilhete:
“desculpa por ontem...”
Naquele dia veio da casa dos Richard um som alto, uma música conhecida. Era Radiohead?
Téu ouvia as músicas porque gostava delas, tanto quanto o rebelde sem causada casa da frente.
“Por que ele fez aquilo?” os pensamentos vinham com a música. Téu percebia em Rom toda a tristeza que deveria sentir. Tristeza que ele escondia atrás da máscara de machão.
Os dias passaram e os fins de semana e mais um mês.
...

O Outono chegou e com ele as folhas secas. A mais linda estação do ano.
Os dias eram vermelhos. As crianças jogavam as folhas para cima. Liza se balançava em frente a sua casa, os cabelos loiros voavam.
Téu fora lá para construir montes de folhas com uma amiga.
- daqui a um mês é seu aniversário não é?
- é sim! E hoje é o do Rom! – ela disse – não quer um pedaço do bolo?
- acho melhor não...
-Por que não? Ele perguntou por que você não vem mais brincar comigo!
- bom...
- Entre, vamos! O bolo é de ameixa, está uma delícia!
A garotinha tinha o dom da persuasão. Téu entrou na casa. O Senhor e a Senhora Richard o cumprimentaram. Eles sentavam no sofá e tomavam conhaque.
- Mamãe, vou dar um pedaço de bolo para o D!
- Tudo bem querida!
- vamos lá!
A menina pegou a mão de T e o puxou até a cozinha.
-olá! – Disse Rom, que estava pegando cervejas na geladeira e virou de repente.
- oi
- Não vai me parabenizar?
- Ah! Parabéns! – Téu acenou.
Rom correu para o quarto e voltou logo em seguida. Tinha um bilhete nas mãos.
“eu posso passar mais tarde para pegar meu presente?”
Téu sorriu.

...

Mais tarde Rom foi à casa 17. Abraçou Téu mais forte que da primeira vez.
- Posso dormir aqui?
Téu assentiu com a cabeça. Os dois conversaram a noite toda. Sobre música e cinema. Mas quando Téu começou com os porquês, Rom virou para o lado e dormiu.
...

E assim passou um ano. Rom não ia mais à casa 17. Davi quase não via sua pequena amiga. Ele não entendia o motivo da abstinência.
Um novo morador veio para a rua. Ele tinha a mesma idade de Téu, agora com 20. Os dois conversavam. Eram bem parecidos e às vezes viam filmes juntos.
Rom agora andava para cima e para baixo com uma nova namorada. Téu os olhava pela janela e se perguntava pelas razões daquilo. Rom era uma pessoa difícil de se entender. Ele olhava para a janela também, de rabo de olho, quando passavam pela 17.

...

Dezembro, véspera de Natal. Téu arrumou a mesa para si mesmo. Como sempre, alugou filmes.
Antes da ceia o novo amigo, Marling, veio para sua casa desejar feliz natal. Eles sentaram e comeram rabanadas. O relógio tocou a meia-noite. Eles se abraçaram.
Naquele exato momento, Romulo tinha saído correndo de casa correndo para falar com Téu. Abriu a porta e viu os dois ali, abraçados.
- o que é isso?
- Isso quê?
- Sínico!
- Como?...
Rom agarrou Marling e deu três socos em seu rosto. O garoto branquelo caiu no chão.
O bad boy olhava para T, ali imóvel.
- Então é isso?
- Eu não te entendo Rom...
- é seu novo namoradinho é?
- Ele é meu amigo... Eu não saio com garotos!
- Não? E eu hein?
- Eu nunca soube o que aconteceu aqui Rom...
- Ok, se é assim então...
- E você... hein? Você não tem uma namorada?
- Não! Não tenho mais seu idiota!Mas não se preocupe... – Rom chorava como uma criança. Téu o abraçou. Ele recusou. Davi tentou novamente. Eles ficaram ali agarrados por um bom tempo.
- Você não vai mais me ver OK! – disse Rom

...

Durante toda a noite Téu observou o movimento no quarto da frente. Tentou mandar sinais de luz com uma lanterna, mas nada...
A namorada de Rom passou por sua casa com os olhos molhados e a maquiagem borrada.

...

Na manhã seguinte um tumulto reuniu os vizinhos em frente à 20.
A família chorava. Eliza estava desesperada. Téu correu até lá.
- Foi tudo culpa sua! – a garotinha gritava repetidamente, batendo em sua barriga – Foi culpa sua! Culpa sua!
O Senhor e a Senhora Richard estavam desamparados, mas não culpavam Téu.
Ele subiu até o quarto de Rômulo. Ele estava deitado na cama. Os CDs jogados no chão, cigarros e garrafas de whisky. O som estava ligado no repeat e ainda tocava aquela música. Travis. Do lado esquerdo uma seringa, uma caneta e um bilhete.
Téu apanhou o papel.sentou na cama e olhou pela última vez os olhos, agora sem vida. As mãos brancas. Na boca ainda a cicatriz da mordida da primeira vez.
...

À noite, Téu olhou seu quarto. Por que? Ele não tinha culpa... por uma vez se via como num filme de drama como os que assistia. Entendeu que os porquês não faziam nenhum sentido. Ele poderia apenas ter vivido. Sentou na cama e pegou o bilhete:
“Você não tinha que falar nada. Não quis me dar o que eu te pedi... eu te pedi tão pouco. Eu queria deitar com você, sem perguntas.
Por que você não me entendeu?
Eu só precisava disso...
Eu gostava de você

T.”

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