Nãoexisteosónuncaexistiununcaexistiráosósóissosóaquilo.Nãominta,
nãodestruaosónãomastiguenãoinventenãodigaqueeleexiste.Nãoexiste
osó,nuncaexistiu,nuncaexistiráosó.

Honey And Clover

"Com o passar do tempo, chegará o dia em que tudo se reduzirá a lembranças.

Mas...

Aquela magnífica época em que você e eu...

...com todos os outros, procuramos juntos por só uma coisa...

...continuará se movendo para sempre...

...em algum lugar no fundo de meu coração como minha doce lembrança."

Dizem que é sinal de surpresa.

Ainda havia o coelho de feltro, em cima da prateleira.
Olhava tão furtivamente para suas anotações.
As memórias passeando pelo quarto, como fantásmas. Queria poder exorcisá-las.
Como poderia?
O coelho olhava e ela olhava.
Talvez fosse ele a causa do sofrimento.
Mas não era somente o coelho, era a carta, o filme, a fita, era o quarto inteiro e o cheiro no lençol.
Tudo era feito de um tempo que não voltaria.
Então ela decidiu se mudar.

Asía

Sentindo algo dentro de mim, na barriga, não é fome, não é lombriga. É você querendo nascer e eu tomando ácido, pra te derreter!

Verde.

"Afinal de contas tudo era apenas sementes, que joguei à terra e esperei crescer" dizia ela às amigas.
Não era auto-afirmação, era a mais pura verdade.
Ia caindo a noite quando voltavam para casa, o Sol deixava o céu vermelho. Vermelho com azul, aquele contraste perfeito.
"E amanhã, como será?"
"Amanhã será escuro, porque as sementes cresceram, mas só para mim... E acabaram virando árvores enormes que me prenderam em uma floresta densa e molhada"
"Ai amiga, mas que coisa mais triste"
"Pois é, estou dependendo de alguém que queira cortar a floresta"

O sabão dos dias passados.

(Leia escutando 3 Times and you lose - Travis)


Era noite alta. Seus pés estavam cansados, tudo estava, sua cabeça, seu coração, principalmente.
Havia tomado a decisão e não queria voltar atrás, mas não tinha mais forças para lutar contra tudo aquilo.
Não suportava mais. Havia estado ali, no mesmo lugar por mês, de pé. Não podeira mais.
Cortava suas veias cada vez que tentava apagar da mente aquelas imagens. cada vez que dizia com palavras que pareciam verdade :  Não te amo mais.
E quando chegava em casa, o espelho o denunciava.
Mas era humanamente impossível para o tipo de ser humano que era.
Não queria mais.
O que parecia uma brincadeira de criança, um iô-iô, que ia e voltava, agora deveria ser como uma bola de gude, ir, para sempre, seguir o caminho sem volta, a caminho do esquecimento.
Não queria mais os braços, as mãos, as pernas, não queria os olhos, muito menos os olhos.
Na verdade queria sair daquele lugar onde esteve por meses sem resultado.
Em suas mãos estava o alfinete para furar a bolha.
Mas antes... Antes que pudesse furá-la, parou, olhou para as paredes. Pensou em tudo, desde o começo.
Ahhh, como doía. A alfinetada em seu peito, que jorrava o líquido azul, o líquido que sempre correu por suas veias finas.
A fumaça do cigarro, poças de álcool, cartas e cartas escritas em vão, para a bolha, a bolha que insistia em dizer que ele nunca quizera estar lá dentro. O que doía mais ainda.
Segurou forte o alfinete...

Hesitação em 3D

Sentia algo lindo e indescritível.


Não podia dizer.

O medo era maior que qualquer coisa.

Medo de perder o dia, de perder a linha, medo de perder alguém que mudara sua vida de uma forma inesperadamente bonita.

Entre os dias de solidão e de esperança, imaginava o amado. Entrando pela porta do quarto, sentando na cama, falando sobre o que fez no dia, perguntando pelo jantar. Levantava-se e começava a conversar com o ar. Havia cozinhado o macarrão. Passavam a noite falando sobre assuntos banais, entre beijos e abraços de ilusão.

Na hora de dormir, abraçava os próprios braços e dizia "boa noite".

Ali, escondido debaixo dos lençóis, o medo não existia mais.

Resurgia apenas quando o via em carne-viva.

Auto-Descrição Em 3ª Pessoa

Para ele a vida era um vídeo, com cortes, personagens peculiares e trilha sonora.
O falavam que sua infantilidade o faria sofrer, mas ele não os ouvia, porque sabia que a vida seguia seu curso sozinha, porque tudo tinha um roteiro.
No final da noite ele parava para o close dramático em frente ao espelho do banheiro, a canção melódica iniciava, o dia passava em sua cabeça, os sets de filmagem, os personagens e suas falas,  tão bem atuadas que até pareciam espontâneas.
Percebera então que era na verdade o único ator no meio dos artístas. Ele era o único que decorava as falas e fingia os sorrisos e tinha vários personagens no currículo. Mas de que importava aquilo? Ser um ator cotidiano enquanto os outros esperavam pelos editais?
Para ele tudo se resumia à história que contaria depois.

Santo do Pau Oco

Ele era médico de um hospital evangélico.
Por ordem do pastor, que era diretor do hospital, ele tinha e confortar os pacientes e parentes com palavras da Bíblia. Em casa lia Dostoievski e Kant. João e Eclesiástes nunca saíram da mesa de centro, morava com a mãe católica.
No trabalho ironizava a palavra sagrada com "pré-conceitos papais". Quando chegava o paciente gay convertido que tinha aids ele sempre dizia, baixinho para ninguém ouvir:
"Esse negócio de "amai-vos uns aos outros" nunca foi mesmo seguro".

Era para ser ambíguo

Durante meses olhei o mar. Senti seu cheiro, que cheiro bom. Seu toque de leve em meus dedos quando andava bem perto dele, na areia.
Você sabe o que sempre digo: "A força do mar leva meus problemas para longe, porque sabe que sou fraco e ele forte".
Era sempre assim. Eu esquecia tudo quando estava com ele.
Mas hoje não. Hoje eu olhei para ele e conversei e o vi diferente. Olhei nos olhos do mar e não disse nada, mas senti.
E então retirei minha roupa e meus problemas antes de tocá-lo. Meus dedos em seus cabelos, minhas pernas também nas dele.
Deitei-me. Limpei-me em sua saliva, senti suas mãos me levarem, dancei com o mar e namoramos durante a tarde.
Ninguém viu.

Littlelest Things

"As menores coisas que me trouxeram aqui, podem ser muito insignificantes, mas são todas verdadeiras.

E algo que sempre achei injusto, é que elas sempre me lembram você.

às vezes penso que podríamos apenas fingir,

mesmo que por um fim de semana apenas,

então me diga, querido, esse é o fim?"
 
Inspirado na música da Lili Allen
 

Todas as noites, antes de dormir:

- Eu desejo que meus braços sejam os mais quentes, para que não sintas frio à noite.

E desejo que desejes dormir, abraçado em meus braços.

Irônico.

João não queria mais tentar entender o que ninguém entende. Porque estavam todos ali agindo como se fossem muito fortes?

Ao andar pela rua sentia que seus olhos haviam secado.

Quem era João? O que ele estava fazendo com sua vida?

Ele vivia?

João sentava na parte mais alta que encontrava na cidade, podia ser um telhado, ou uma varanda. Olhava os carros passarem.

Pensava em quanta gente havia ali e em quantas, praticamente todas, eram tão diferentes dele.

Ele pensou em tirar a vida, mas não faria sentido. "ora vou até o final disso para ve rno que vai dar".

Seu maior medo era de virar um depressivo, porque de certa forma estava se transformando em tudo aquilo que criticava.

Ficou de recuperação na escola, por sempre dizer que ninguém precisava dela.

Nunca gostou de empregos formais, mas não havia quase nada de que precisasse tanto.

Odiava o álcool e os cigarros. Agora bebia e fumava, não muito, mas o bastante para se dizer que sim.

E sempre criticou os depressivos. Os achava fracos, porque não sabiam lidar com seus problemas.

O Porão

Eu tenho aqui no meu bolso a chave.


Oh, mas nunca entreguei a ninguém.

Essa chave ela abre um lugar muito secreto, que só eu conheço e para onde nunca, nunca ouviu bem?, nunca levei ninguém.

Não, eu não quero escondê-lo, esse lugar. Só acho que é um lugar muito, muito triste para levar alguém.

Talvez por isso ninguém queira pegar a chave aqui no meu bolso e destrancar aquela porta grossa.

Mas é um lugar tão bonito, tão cheio de verdade e de companheirismo, decorado com as mais lindas ilusões que alguém pode ter.

o fato é que penso que será difícil encontrar a pessoa certa para passar pela minha porta secreta.

A chave não, a chave é uito pequena e leve e fácil de se conseguir. É só por a mão aqui no meu bolso. Não o do calção, o da blusa.

Ela está lá, envolvida em um tecido vermelho, sempre esteve.

E se?

Sim eu queria ter feito aquilo mesmo. Queria ter chegado a seus lábios.


Mas de certa forma algo me bloqueou. Tenho medo ainda de arriscar.

Lembro que você estava tão pessoal. Quero dizer, eu não poderia quebrar aquilo.

Afinal, o que era naquela época. Faz tanto tempo, embora tenha sido há alguns meses, no começo desse ano talvez.

E aí eu só lembro que você começou a se diluir na minha cabeça. Não era amor, nunca foi. Mas não era ódia, não era amizade.

O que era?

Lupa.

Não sabia, simplesmente.


mas seguia seu caminho.

Era época de vento forte, seu cabelo estava sempre desarrumado.

Tinha tanto medo de que nunca fosse encontrar uma rasão para o simples fato de sua história ser tão dramática.

assitia filmes dramáticos e escutava música dramática também para tentar pensar em algo, mas não conseguia.

Seus paços desenhavam no chão molhado.

Por onde andasse todos saberiam que era uma pessoa sozinha e que por mais que estivesse acompanhado,

parecia estar só.

Era só olhar em seus olhos que chamavam e expulsavam ao mesmo tempo e então ninguém poderia chegar perto dele.

O fato de que estava procurando afastava as pessoas, que não queriam ser encontradas.

O Desespero

(ovos de Borboleta postos em uma folha de papel que achei em cima do meu guarda-roupas) Alguns irão entender.