Eu terminei meu milk-shake. Isso já faz algum tempo.
Deixei a colher ali na mesa. Eu adoro morder colheres descartáveis, mas não tava afim. Queria descansar os músculos do meu rosto depois da taça enorme de sorvete com leite.
Aí eu fiquei só olhando de longe. E ela me olhava de volta. E tudo me olhava. Os bancos, as mesas, os canudinhos, Aquilo aumentava meu ego. Eu gostava.
Mas aí, depois de um tempo eu fiquei entediado e fui fixando o olhar em um objeto e outro, até depois voltar pra colher novamente. Minha colher!
Então, voando não sei de onde, surgiu uma mosca de olhos grandes e arredondados, que ficou voando ao redor do talher de plástico transparente.
Rondava, sondava. Parecia uma mosca conhecida. Aí ela pousou na colher.
Aquela mosca me prendeu a atenção por um bom tempo. Tempo em que fiquei meio triste, mas meio esperançoso. Esperava que ela saísse dali, para eu poder morder a colher, ou que ela ficasse de vez.
Daí ela foi chegando à gota de sorvete que ainda havia na colher. Bebeu e foi embora. Eu já estava cansado. Achava que não encontraria mais prazer em morder a colher, suja das patas da mosca.
Porém, depois que ela chegou e saiu, me bateu uma saudade daquela bebida, sorvete batido com leite, tão gelado descendo pela minha garganta, provocando em mim um prazer que chegava a ser orgástico.
Aí eu pedi outro milk-shake... Só pra depois poder morder a colher... Mas bem depois.
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