Nãoexisteosónuncaexistiununcaexistiráosósóissosóaquilo.Nãominta,
nãodestruaosónãomastiguenãoinventenãodigaqueeleexiste.Nãoexiste
osó,nuncaexistiu,nuncaexistiráosó.

A Cidade.

Esse aqui foi o conto que me fez mudar o nome do blog. Na verdade tá mais pruma crônica. E só pra deixar claro, Eu adoro Bem-Te-Vis.



Em frente a minha casa há três árvores sempre verdes. Elas são altas, mas não tanto quanto árvores podem ser.
Em uma daquelas árvores morava um bem-te-vi. Não sei em qual delas, porque nunca vi o ninho, mas ele sempre ficava por ali, rodeando as árvores e cantando sua melodia repetitiva.
Às vezes, à tarde, sem muito a fazer, eu ficava observando o que o bem-te-vi fazia.
Eu percebia que ele vinha para o chão e ficava procurando coisas para por no ninho.
Ele pegava pedaços de palha, galhos secos e folhas caídas de outras árvores e, como vivo na cidade, as ruas têm sempre um lixo que as pessoas burras jogam no chão. Por vezes, na falta de algum item orgânico, o passarinho levava pedaços de embalagem de canudos de suco, pingentes de lata de Coca-Cola e papel de bala.
Outro dia podaram a árvore. Eu cheguei mais perto pra procurar o ninho do Bem-Te-Vi. Já fazia um tempo que não o via por ali.
Aí eu percebi, em meio a pilha de galhos no chão, um amontoado de coizinhas brilhantes. Aquela cena foi a mais triste pra mim, porque já o tinha como amigo.
Quando cheguei bem perto, pude ver que ele tinha ficado preso nas embalagens plásticas e pingentes de Coca. Provavelmente tinha morrido de fome.
Aí eu comecei a me perguntar se eu mesmo sabia como viver com a cidade e suas embalagens, ou se estava apenas preso às suas facilidades.
Sim,porque eu gosto muito do verde, mas já me acostumei com os shoppings e as calçadas. Com as pessoas de lá pra cá.
Talvez eu queira ser mesmo é igual ao bem-te-vi e construir meu ninho num bairo de classe média.
E se eu já estou preso às embalagens e aos pingentes das latinhas, será que estou vivendo no centro, pou será que estou morto? Sufocado pelos prazeres fáceis da vida urbana?

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